Caminho de acesso aos lameiros, Barroso
F/6.3
1/400 seg.
6 mm
ISO-100
Localizada num extenso planalto, numa zona de transição entre as Serras da Cabreira e Barroso, a cosmopolita Vila de Salto (Montalegre), é um dos exemplos da curiosa simbiose entre o homem e a natureza. Neste pitoresco recanto transmontano, a paisagem foi moldada de uma forma ordeira e harmoniosa.
Enquanto percorríamos a calçada de granito do velho núcleo rural, alguns dos exemplares da antiquíssima arquitectura rural transmontana iam surgindo ao virar de cada esquina. Casas senhoriais, velhos cruzeiros revestidos por líquenes, fontes seculares, currais cobertos por telhados de colmo, são, entre muitas outras, algumas das relíquias que aqui podemos encontrar. Mas a arte e o engenho dos homens não se focou exclusivamente no interior das povoações. Por toda a parte é possível observar quilómetros e quilómetros de rectângulos viçosos, debruados em socalcos suaves e delimitados por muros de pedra sobreposta.
Os lameiros são o fruto de anos de experiência acumulada e da necessidade de alimentar o gado doméstico nos gélidos meses de Inverno. Caminhar no interior dos lameiros é como percorrer uma espécie de labirinto. Um sem fim de velhos caminhos que se cruzam vezes sem conta e que, invariavelmente, acabam por ligar as casas e os campos ao bosque de carvalhos, que, por sua vez, segue até às zonas de baldio, utilizadas nos tórridos meses de Verão como local de pastagem.
Seguindo por um desses caminhos, dirigimo-nos ao encontro do flamejante planalto serrano. A paisagem, aqui, encontra-se praticamente despida, com poucas ou nenhumas árvores, coberta predominantemente por extensos matos de urze e carqueja. O calor tornava-se por esta altura abrasador, quase insuportável. Felizmente, o trilho dirigia-se ao encontro de um pequeno ribeiro, que a jusante era engolido por um frondoso bosque de bétulas. Não só estávamos protegidos do sol pelas copas das árvores, como ainda tivemos a sorte de deleitarmo-nos com uma ligeira brisa que trespassada por entre a folhagem dos ramos, inundava o local de uma doce e suave frescura. E, claro, com o ribeiro a rasgar aquele pequeno paraíso, não resistimos à tentação de descalçar as botas e pôr de molho os nossos pés! Mas como ainda tínhamos alguns quilómetros pela frente, tivemos forçosamente que voltar a calçar as botas e continuar o nosso caminho.
Acabamos por chegar ao fim do dia bastante fatigados e com as pernas já bem moídas. No entanto, as dores do corpo eram facilmente suportáveis pela satisfação do momento, depois de longas horas e muitos quilómetros de puro deleite, desta vez, por lameiros e baldios.
Texto e fotografia © Baltasar Rocha (Todos os direitos reservados)